Se não me afogar agora, vou afogar um dia

Aqui tentando criar uma imagem que dê conta do problema. Mas não é assim que funciona, né?

Eu me sinto flutuando em um mar — ou rio, sei lá — sem saber nada do que está acontecendo. Mil coisas passando por mim, algumas mortas e outras vivas. Quase me afogo um milhão de vezes por dia. Mas por algum motivo as águas não me levam. Às vezes queria que elas levassem.

As correntezas são rápidas, se chocam e me levam para todos os lados. Me deixo ser levada mas às vezes tenho vontade de nadar. Minha roupa está em intacta e minha pele continua seca, porque de alguma forma pertenço a esse lugar. É aterrorizante e reconfortante.

As águas se movem em um turbilhão, mas nem se compara com as correntezas dentro da minha cabeça. Estou exausta. Não de nadar. Mas de ser arrastada, dos constantes afogamentos. Estou exausta de pensar. Tem como acalmar esse mar incansável? Ou será que só vou conseguir encontrar um lugar calmo nas profundezas?

Eu não sei se nada disso explica coisa alguma. De verdade, acho que só queria escrever qualquer merda hoje.

Era pra eu tentar explicar uma coisa epecífica mas não expliquei coisa nenhuma. Talvez porque seja tarde ou talvez seja porque eu passei o dia inteiro… escrevendo?

A questão é que eu devia ter começado por outro ponto.

Nesse mar estou sozinha. E se por acaso eu me iludo achando que tem alguém comigo, tenho certeza de que essa pessoa não vai impedir que eu me afogue. Eu sei disso porque já aconteceu antes. Um milhão de vezes. Porque de vez em quando alguém aparece e segura minha mão por um tempo, tenta fazer meu corpo resistir às correntezas. Mas essa pessoa sempre tem coisas melhores para fazer do que segurar minha mão e, na primeira oportunidade, deixa que as águas arrastem seu corpo para longe do meu.

Eu já deveria estar acostumada, mais dói toda vez. E dói mais a cada vez.

Essa é uma imagem boa? Não, é uma merda como eu bem disse. Mas é a merda que eu consegui articular hoje.

08.04.2022 — Wien, tentando responder perguntas difíceis